No Dia Internacional da Mulher, celebramos histórias de mulheres que inspiram e transformam realidades. A professora Mônica Dahmouche, física e servidora da Fundação Cecierj, é uma delas. Sua trajetória profissional é marcada por uma sólida formação e pela dedicação à ciência e à divulgação científica.

Nos últimos anos, Mônica Dahmouche desenvolveu diversos projetos que promovem a participação das mulheres nas áreas de ciências exatas, engenharias e computação, como o podcast ‘Mulheres da Hora’, lançado no Dia Internacional de Meninas e Mulheres na Ciência (11/02). Os programas estão disponíveis no Spotify e demais tocadores.

“Como a menina que gosta de matemática, gosta de engenharia, vai escolher ser engenheira se ela não conhece nenhuma? Precisamos mostrar exemplos nessa área, mulheres bem-sucedidas. A falta de referências pode desencorajar meninas a seguirem carreiras em ciências exatas, engenharias e computação”, afirma Mônica, que é mestre e doutora em Física pela Universidade de São Paulo com pós-doutorado no BNM-SYRTE (Paris).

Ela também organizou duas edições do Hackathon Meninas Normalistas, voltado para alunas das escolas de formação de professores da capital e da região metropolitana do Rio. A iniciativa se insere no âmbito do projeto Meninas nas Exatas da Baixada Fluminense, parceria do Museu Ciência e Vida com a Universidade Federal do Rio de Janeiro – campus de Duque de Caxias.

Mônica ainda é autora dos livros ‘Agora é que são elas’, que traz feitos de cientistas que contribuíram para o desenvolvimento das ciências na área de saúde; e ‘Exata é com elas: tecendo redes no estado do Rio de Janeiro’, uma coletânea de projetos que promovem a inserção de meninas e mulheres nas ciências exatas. Todos disponíveis em www.cecierj.edu.br/divulgacao-cientifica/ebooks/.

Confira os trechos do bate-papo para o site da Fundação Cecierj:

Como tudo começou

Escolhi a Física, primeiro, porque sempre gostava muito de Matemática. Sempre fui uma aluna estudiosa, tinha bom desempenho. No ensino médio, tive um professor que era excelente e ficava encantada com os conceitos que ele passava. Eu lembro que gostava muito quando ele substituía os números por letras, não importando se era um, dois ou três ou dez mil, cinquenta mil. Ele trocava por X e Y e achava muito legal. Esses conceitos que ele ia trabalhando com a gente me interessavam muito. A gente sabe que Física não é muito fácil e aquilo era um desafio para mim e sentia realmente desafiada a mostrar que eu era capaz.

Física na UFF

Vou tentar fazer esse negócio, que é difícil, mas a gente consegue. Foi assim então que optei por fazer Física e passei para a Universidade federal Fluminense (UFF), em Niterói. Eu tinha algumas colegas, não eram tão poucas, quando a gente entrou, mas acabamos sendo poucas formadas, porque isso é típico do curso de Física, que tem uma evasão grande. Eu tinha um olhar para as professoras, saber se eram casadas, se tinham filhos, como eram no departamento, se eram respeitadas. Sempre fiquei atenta a isso e, de certa forma, já estava lá atrás, ainda na minha formação, refletindo sobre a posição da mulher, ainda que de forma inconsciente.

Divulgação científica

Durante o meu estágio de pós-doutorado, depois que voltei para o Brasil, fazíamos ações de divulgação científica, especialmente com a sessão de portas abertas em que recebíamos estudantes do ensino médio no laboratório da USP, em São Carlos. O lugar tinha muito lasers, de várias cores e comprimentos de ondas, e eles ficavam encantados E, para além da visita aos laboratórios, fazíamos também uma sessão de experimentos mais didáticos voltados para os alunos do ensino médio com conceitos que fossem mais próximos da realidade deles. Essa atividade durava uma semana com uma culminância no shopping da cidade, com uma exposição dos equipamentos.

Pioneiras da Ciência no Brasil 

Na Fundação Cecierj, trabalhando com divulgação científica, especialmente no Museu Ciência e Vida, fizemos um trabalho a partir do livro Pioneiras da Ciência no Brasil, do CNPq, sobre mulheres que contribuíram para o crescimento da ciência nacional. Eu, Andrea Fiaes e Simone Pinto, minhas colegas no museu, fizemos uma exposição. Selecionamos vinte personalidades e, com apoio da  equipe de ilustradores da Diretoria de Material Didático, fizemos um tratamento das fotos e preparamos os textos. Esta foi a primeira ação estrategicamente pensada para essa questão da divulgação dos feitos de mulheres.

Depois, junto com a UFRJ – campus Duque de Caxias, fizemos um projeto voltado para estimular meninas e mulheres para as áreas de ciências exatas, engenharias e computação. A iniciativa envolvia cinco escolas de Duques de Caxias, em que exibíamos a exposição Pioneiras da Ciência no Brasil e Expressões Matemáticas Brasileiras, que foi desenvolvida no Instituto de Matemática e Computação da USP São Carlos, que trazia também mulheres brasileiras que estavam fazendo contribuições importantes no âmbito da Matemática.

Hackathon Meninas Normalistas

Ali perto do Museu Ciência e Vida tem uma escola de formação de professores e sempre recebemos essas alunas. A Aline Martins, minha colega no Museu Ciência e Vida, teve a ideia de desenvolver um hackathon e o nosso objetivo era fazer com que essas meninas propusessem soluções para introduzir a tecnologia na educação infantil. Elas são muito criativas, são capazes de produzir soluções que a gente nem imagina. As jovens normalistas têm uma carga de ciências reduzida e acabam também tendo pouco contato com a tecnologia, especialmente voltada para a educação. Então o hackathon não deixa de ser um desafio.

Fizemos o primeiro evento em 2022 e foi muito bom e, depois de ajustarmos alguns pontos, fizemos outro em 2024, e procuramos ver o que e como interferia na formação das meninas e vimos que tem um efeito grande, no sentido da ampliação do repertório, de aumento da cultura científica, de conhecer metodologias novas. Percebemos também a importância do professor, que estimulava as jovens a participarem.

Podcast Mulheres da Hora

E agora, mais recentemente, nós fizemos o podcast ‘Mulheres da Hora’, em que a gente quer dar visibilidade para várias mulheres que desempenham um papel importante nas suas carreiras, mas não apenas na universidade, mas mostrar outras possibilidades, em áreas como engenharias, computação e ciências exatas. Acho isso muito importante, porque, quando eu era estudante, tanto na graduação quanto na pós-graduação, me via sempre como uma professora universitária. O meu sonho era fazer um concurso para uma universidade, de preferência de excelência, criar meu grupo de pesquisa, ter meus alunos, orientá-los, escrever artigos, desenvolver pesquisas. Era o que tinha vivido até então. Nem sempre as coisas são como achamos que elas vão ser e a vida nos reserva surpresas e, para mim, foi ter passado no concurso para a Fundação Cecierj.

O mote do podcast é mostrar que há outras possibilidades. Lançamos em 11 de fevereiro, Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência, e a nossa primeira convidada foi uma jovem com formação de excelência, graduada em Física também. Durante o segundo pós doutorado, Aida Bebeachibuli teve a oportunidade de abrir uma empresa utilizando uma tecnologia que eles tinham desenvolvido no laboratório da USP, em São Carlos. É importante estarmos sempre atentos a ter uma carreira, uma formação de excelência, porque, quando as oportunidades aparecem, estaremos atentos e preparados. As mulheres podem ocupar o lugar que quiserem.

Livros

A pandemia foi um momento muito difícil para todos e tive a ideia de fazer um ciclo de postagens no Instagram do Museu Ciência e Vida sobre mulheres na ciência, que tivessem feitos de repercussão internacional. Surgiu a série ‘Agora é que são elas’. Então tinha a imagem da mulher, um texto, e utilizei muito o site do Nobel e da Academia Americana de Ciências, e destacamos algumas brasileiras também, como a professora Ruth Sontag Nussenzweig. A série se transformou no e-book, em coloquei mais informações e referências. Está disponível no site da Fundação Cecierj, na aba da divulgação científica, em www.cecierj.edu.br/divulgacao-cientifica/ebook-agora-e-que-sao-elas/.

O outro é ‘Exata é com elas: tecendo redes no estado do Rio de Janeiro’, uma coletânea de projetos desenvolvidos no Rio de Janeiro para promover a inserção de jovens meninas e mulheres nas ciências exatas. A publicação traz mais detalhes sobre “Educação Equitativa”, “Astromeninas em ação” desenvolvido no MAST; “Meninas das exatas da Baixada Fluminense” desenvolvido em parceria da UFRJ campus Duque de Caxias e Museu Ciência e Vida/Fundação Cecierj; “STEM IME- Girls to girls” realizado no IME; “Garotas cientista, por que não?”  elaborado na UFRJ-campus Macaé; “Tem menina no circuito” desenvolvido na UFRJ; “Meninas Olímpicas do IMPA” desenvolvido por CAP-UFRJ e IMPA; “Meninas e Mulheres na RRD” desenvolvido na UNISUAM e UVA e “Estímulo às meninas nas ciências através da análise de mineralograma capilar: um estudo de caso”, desenvolvido na PUC-Rio.  Também está disponível no site em www.cecierj.edu.br/divulgacao-cientifica/elas-nas-exatas-tecendo-rede/.