Ela é reconhecida como liderança comunitária e consultora de projetos de educação e empreendedorismo. É conhecida como a Oprah da Baixada, forma que encontrou para se comunicar, por meio de projetos pela internet. Ela é autora de um livro de poesias, que marcou a sua estreia na literatura em 2024. Priscila de Jesus, de 37 anos, é aluna de Pedagogia, curso ofertado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) no Polo Cederj Belford Roxo.
Nascida em Duque de Caxias, Priscila comemora o lançamento de “Trovoada”, livro que reúne 70 poemas e é uma obra de referência das experiências passadas no território da Baixada Fluminense. “A mulher negra na Baixada passa por questões territoriais que atacam diretamente a existência dela. No livro, o leitor vai encontrar essa realidade a partir da minha perspectiva”, disse Priscila.
Lançado pela Editora Voante, da dramaturga Manuela Dias, “Trovoada” se baseia na visão da própria Priscila como mulher, bissexual e negra em suas batalhas para se autocuidar e se autoproteger. Ela ressalta que o livro mostra a realidade pelo seu ponto de vista pessoal, mas que “fala também de uma perspectiva coletiva, sobre as camadas que nos sufocam, sobre aquilo que nos atravessa quando falamos de violências territoriais, de crises climáticas”.
Como surgiu “Trovoada”
O livro surgiu depois de uma publicação de Priscila no Instagram a respeito de um episódio de violência que a afetou. “Esse fato me deixou bem mal. Mexeu muito com o coração e a cabeça e utilizei duas ferramentas para passar por aquela situação e me reequilibrar. Uma delas foi chorar, a outra foi escrever, porque sempre foi o meu refúgio e a minha válvula de escape, por onde eu me interpretei melhor”.
Um amigo de Priscila, que é roteirista, viu o post e o compartilhou com outras pessoas. Foi ele quem chamou a atenção de Manuela Dias para o texto e deu o incentivo para que o livro fosse publicado. “Marcamos uma reunião com Manuela Dias e as coisas foram acontecendo”, contou.
Paixão pela leitura
Desde criança Priscila foi alimentada com a escrita, com a leitura, vendo a sua mãe, a baiana de Itabuna (BA), dona Ivani dos Santos, lendo o tempo inteiro. “Na nossa casa sempre teve gibis, livros e revistas, então eu sempre fui apaixonada pela leitura”, disse Priscila, que chegou a se desconectar dos livros por um tempo.
“Mas que bom que me reconectei. Acredito que isso vem dessa experiência que tive em casa, das coisas que via ao meu redor. Sempre tive amor pelas palavras e costumo dizer que sou escritora desde que comecei a entender que juntar letras formava palavras, frases e textos inteiros. Assim é a vida, é por pedaços e a gente vai encaixando tudo”, afirma.
Oprah da Baixada
Priscila é conhecida como a Oprah da Baixada, um codinome que ela própria criou para se comunicar, por meio dos seus projetos pela internet. “Precisava criar um nome com que pudesse trabalhar a comunicação e as questões do meu território. Oprah, porque é uma das maiores comunicadoras negras do mundo; e Baixada porque é o meu território e quero que seja marcado na minha história, para as pessoas entenderem que tem muita coisa incrível”, explicou.
Priscila disse que interage muito bem com a personagem. “Enquanto a ‘Oprah da Baixada’ veio para demarcar o território e comunicar que a Baixada é um lugar de ancestralidade, de coisas boas, tecnologia e muito mais que a violência, a Priscila poetisa vem para equilibrar as relações, por meio das emoções, de um olhar mais poético, em que a poesia aparece para mostrar, por outro ângulo, sobre o que é território. A Priscila poetisa equilibra a ‘Oprah da Baixada’ e vice-versa, porque a minha comunicação parte de quem eu sou, e sou parte do meu território. Então, elas se complementam”.