Dois mil e dezessete nem ensaiou a sua comissão de frente direito e já dá pra ver que vai valer muito a pena ver o desfile inteiro! E o enredo apresentado promete trazer para nós uma chuva de esclarecimentos sobre o assunto queridinho da Astronomia nos últimos anos… Vida!
Analogias com o Carnaval à parte, a notícia que a agência espacial norte-americana, a NASA, nos trouxe às vésperas do maior show da Terra são de fato dignas de todos os holofotes do mundo. Segundo anúncio feito pela agência em uma coletiva de imprensa realizada no dia 22 de fevereiro deste ano, e o artigo associado a ela publicado na revisa Nature, liberado no mesmo dia, foi descoberto mais um sistema planetário na nossa vizinhança.
E ele está longe de ser apenas mais um dos 2577 outros sistemas planetários já descobertos por nós pelo Universo até agora. Este novo sistema, que recebeu o nome de TRAPPIST-1 (o nome é estranho porque ela recebeu o nome do telescópio que a observou, TRAPPIST, um acrônimo de Transiting Planets and Planetesimals Small Telescope, que significa Pequeno Telescópio de Trânsito de Planetas e Planetesimais), está localizado a cerca de 40 anos-luz de nós e é simplesmente o sistema com maior número de planetas de tamanho comparável ao da Terra: sete! Um novo recorde!
E esta não é a única semelhança entre esses recém-descobertos exoplanetas e o nosso amado planeta azul. Dados do telescópio espacial Spitzer, associados a dados de outros grandes telescópios terrestres, como o Very Large Telescope (VLT, do inglês Telescópio Muito Grande) tornaram possível a estimativa de tamanho e massa dos seis planetas mais próximos da estrela.
Através do cálculo da densidade destes planetas, descobrimos que muito provavelmente todos os planetas do sistema são planetas do tipo rochoso, ou seja, que possuem superfície! Uma investigação mais profunda iniciada pelo famoso Telescópio Espacial Hubble está, por enquanto, confirmando esses dados: observando os dois planetas mais próximos à estrela ele confirmou que eles não possuem atmosferas compostas de hidrogênio (o tipo de atmosfera que normalmente encontramos em planetas gasosos).
As estimativas de órbita desses planetas indicam que todos os sete estão a uma distância da estrela que é menor do que a distância que Mercúrio está do Sol e, por isso, os planetas sofrem a ação de uma força, chamada força de maré, que impede a sua rotação. Na prática, isso faz com que eles mostrem sempre a mesma face para a sua estrela, assim como a nossa Lua em relação à Terra. Logo, ao invés de dias e noites, eles têm um lado noturno e um lado diurno.
Ainda mais interessante que a o grande número de planetas orbitando a estrela é o fato de que três destes sete planetas estão na chamada Zona Habitável, o que é um fator extremamente importante para o desenvolvimento de vida como conhecemos aqui na Terra nestes planetas.
O grande número de planetas na Zona Habitável mesmo com eles tão próximos à estrela é explicado pela temperatura extremamente baixa da estrela do sistema, que é do tipo anã vermelha. Estrelas desse tipo possuem massa entre 0.08 e 0.5 massas solares e temperatura superficial aproximada de 3700 º C (achou quente? A temperatura superficial do nosso Sol é de, aproximadamente, 5500 ºC) e são o tipo mais comum de estrelas na vizinhança do Sol. Elas, no entanto, não podem ser observadas a olho nu, já que brilham mais forte em uma região do espectro eletromagnético que nossos olhos não enxergam, o infravermelho.
A descoberta do TRAPPIST-1 já está mobilizando uma série de estudos com outros telescópios, inclusive com o Telescópio Espacial James Webb, que será lançado em 2018, a fim de sabermos se algum dos planetas – especialmente aqueles na Zona Habitável – têm atmosfera, buscando assinaturas de moléculas complexas, como água, metano e ozônio e oxigênio.
Esta é, sem dúvida, a chance mais próxima que já tivemos de descobrir vida fora do nosso planeta. Fiquemos de olho!
Carolina de Assis
Astrônoma do Museu Ciência e Vida