Olhando para o céu noturno parece, a princípio, que todas as estrelas estão a uma mesma distância de nós, como luzinhas brilhantes costuradas num imenso tecido. Mas, na verdade, cada uma delas está a uma distância específica e nós só as vemos com a configuração que aparecem no nosso céu porque elas estão muito longe. Dessa forma, as estrelas aparecem no nosso céu como os prédios ou morros vistos de um avião que voa a muitos quilômetros da superfície: pontinhos de tamanho parecido, mesmo que uns sejam mais baixos – e portanto mais próximos à superfície – e outros mais altos.
Isso significa que existem estrelas que estão mais próximas ou mais distantes de nós na nossa galáxia. Nossa vizinha mais próxima é a Alpha Centauri, também conhecida como Rigel Centauris, a estrela mais brilhante da constelação do Centauro. Ela é bem fácil de ser observada, pois além de ser bem brilhante, é uma das duas estrelas que ficam coladinhas com o Cruzeiro do Sul, uma constelação bem conhecida do nosso céu.
Mas não é apenas a proximidade conosco que faz da Alpha Centauri uma estrela especial dentre os milhões de pontinhos luminosos do nosso céu. Até esta semana, a lista de seus atributos espetaculares era liderada pelo fato de Alpha Centauri ser um sistema triplo! Isso mesmo! O que nós observamos como um único ponto brilhante e levemente avermelhado é, na verdade, um sistema composto por três estrelas. Duas delas, as maiores e mais distantes (4.4 anos-luz), a Alpha Centauri A e Alpha Centauri B, orbitam ao redor de um ponto comum, completando uma volta a cada 80 anos. Já a Alpha Centauri C está um pouco mais próxima de nós (4.2 anos-luz) e demora nada menos que 1 milhão de anos para completar uma volta ao redor das suas companheiras!
Esta semana, porém, uma descoberta ainda mais espetacular sobre este pontinho tão próximo do Universo veio à tona. Depois de observarem frequentemente este pontinho do céu durante o primeiro semestre de 2016, uma equipe de astrônomos liderada por Guillem Anglada, do Queen Mary University of London, encontrou indícios contundentes do que em 2013 já era uma suspeita: a presença de um planeta orbitando Alpha Centauri!
Os dados foram obtidos através do Telescópio 3,6 metros do ESO (é estranho, mas é esse mesmo o nome!), localizado em La Silla, no Chile, e foram combinados com dados do telescópio ASH2, instalado no Observatório de Explorações Celestes de San Pedro de Atacama, no Chile, e da rede de telescópios do Observatório Las Cumbres, para que a margem de erro fosse a mínima possível.
Mas a descoberta não para por aí! Como resultado preliminar, os astrônomos encontraram que não apenas existe um planeta orbitando as estrelas (ele estaria cerca de 7 milhões de quilômetros de Apha Centauri B – uma distância 8 vezes menor que Mercúrio do Sol!), mas que ele teria um tamanho comparável ao da Terra (1,5 vez o tamanho da Terra) e, assim como ela, está localizado dentro da chamada Zona Habitável, uma zona onde a temperatura permite a existência de água líquida! Sendo o composto mais raro no Universo para a formação da vida como nós a conhecemos, isto significa que existe potencial para a vida neste planeta!
Infelizmente, como a estrela que ele orbita é uma vermelha, muito mais fria que o nosso Sol, caso a vida tenha se desenvolvido, ela provavelmente estaria muito limitada a regiões específicas do planeta, nas partes mais iluminadas pelas estrelas. Algumas outras barreiras ainda atrapalhariam o desenvolvimento de vida neste nosso novo vizinho, como as constantes erupções de raios X e ultravioleta que a estrela próxima a ele emite. No entanto, não dá para negar que esta é a nossa maior chance de observar vida em um planeta fora do Sistema Solar.
Então, senhoras, senhores e senhoritas, fiquemos atentos! Vamos acompanhar de perto esta pesquisa. Afinal, nunca se sabe… Vai que a ciência consiga nos levar para lá? Já imaginaram? “Próxima parada, Alpha Centauri, estação terminal da Via Láctea. Desembarque pelo lado direito…Observe o vão entre a nave e a plataforma! Não se esqueça do seu traje espacial. A sua segurança depende de você!”… Mal posso esperar!
Carolina de Assis, astrônoma do Museu Ciência e Vida